Resumen
O objetivo deste artigo é apresentar e discutir, a partir de dados etnográficos, como pessoas que realizaram transplantes de órgãos reconstroem suas trajetórias e relações sociais mediante a incorporação de uma ética de conduta marcada por parâmetros biomédicos, privilegiando, para tanto, não somente o fato de receber um transplante, mas o de viver com um órgão transplantado ao longo do tempo. O corpo do indivíduo transplantado deve ser produzido cotidianamente, alvo de uma vigilância constante e de uma ação contínua. Após a cirurgia ele será o responsável pela manutenção do tênue equilíbrio entre seu corpo e o órgão doado, administrando a rejeição, o que envolve modificações no comportamento, no estilo de vida e no cuidado de si. Esse cuidado da saúde coloca em evidência a questão do “como viver?”, isto é, das diferentes maneiras de conduzir a vida, situando o indivíduo em um complexo campo de relações interpessoais.